Análise sociológica de "Santa Marta - Duas Semanas no Morro" (1987) de Eduardo Coutinho

Santa Marta – Duas Semanas no Morro, 1987 – Eduardo Coutinho
  Em Santa Marta – Duas Semanas no Morro, também de Eduardo Coutinho, o cineasta adentra no cotidiano dos moradores da comunidade do Morro Santa Marta no Rio de Janeiro. Assim como em Santo Forte, Coutinho dá grande destaque às histórias dos entrevistados, suas vivências e seus depoimentos.
  Os primeiros depoimentos do filme – como houve um anúncio para que os moradores comparecessem as filmagens – mostram pedidos dos moradores para a produção do filme, pedidos que incluem até a emissão de documentos. Esse momento inicial já demonstra uma situação que estará presente em vários momentos: a ausência do Estado na comunidade. Uma das personagens comenta que gostaria que algo fosse feito, pela filmagem do documentário, para que melhorasse a situação da comunidade.
  Essa relação dos moradores com o Estado – cuja presença na comunidade se dá apenas por meio da força policial – é o que pauta boa parte dos depoimentos. A relação delicada entre morador e policial está explícita em vários depoimentos: pautando que “existem pessoas boas e más em todos os lugares” e que “os polícias gostam de dinheiro”. Uma relação de desconfiança e de violência nas operações e nas abordagens cotidianas. O ápice dessa tensão no documentário se dá no momento que uma moradora, diretora da Associação de Moradores, decide confrontar um policial que fica visivelmente desconfortável com a situação.
  A relação dos moradores com a violência também está bastante presente no documentário. Uma das entrevistadas comenta que após uma relação complicada com o ex-marido tornou-se violenta e, no atual relacionamento, tem também uma relação abusiva que envolve até mesmo facadas. A vivência diária na violência faz com que as pessoas comecem a encara-la com naturalidade.

  Um dos momentos principais do filme mostram os depoimentos de jovens, suas vivências, seus sonhos, suas expectativas – e a falta delas também -. Os discursos porém diferem da realidade: Marcinho VP, futuro “dono” do Morro, está presente neste grupo de jovens. 

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